
GRÁFICO AUTOPSÍQUICO
(a Fernando Pessoa)
Fingido em si mesmo escreve
O poeta fragmentado
Por dor tal que não se atreve
Tocar seu eu eclipsado.
O que cala sua poesia,
Pelo bem deles, refletem
Uma e outra imagem fria —
Dentro em si, sem cor, competem.
O caminho é torturante
Duplo círculo mal feito
Sem tamanho, sem quadrante,
Um pulsar fora do peito.
INTERSEÇÕES DESEJÁVEIS HOMENAGEANTES
(com Fernando Pessoa, ortônimo: "Autopsicografia")
I.
O poeta é um fingidor: fingido em si mesmo escreve;
Finge tão completamente o poeta fragmentado
Que chega a fingir que é dor, por dor tal que não se atreve,
A dor que deveras sente tocar seu eu eclipsado.
E os que lêem o que escreve, o que cala sua poesia,
Na dor lida sentem bem, pelo bem deles, refletem
Não as duas que ele teve, uma e outra imagem fria,
Mas só as que eles não têm dentro em si, sem cor, competem.
E assim nas calhas de roda o caminho é torturante:
Gira, a entreter a razão, duplo círculo mal feito
Esse comboio de corda sem tamanho, sem quadrante,
Que se chama coração um pulsar fora do peito.
II.
Fingido em si mesmo escreve — o poeta é um fingidor —
O poeta fragmentado finge tão completamente,
Por dor tal que não se atreve, que chega a fingir que é dor
Tocar seu eu eclipsado a dor que deveras sente.
O que cala sua poesia e os que lêem o que escreve
Pelo bem deles refletem; na dor lida sentem bem,
Uma e outra imagem fria — não as duas que ele teve
Dentro em si, sem cor, competem — mas só as que eles não têm.
O caminho é torturante e assim nas calhas de roda,
Duplo círculo mal feito gira, a entreter a razão,
Sem tamanho, sem quadrante, esse comboio de corda
Um pulsar fora do peito que se chama coração.
Fingido em si mesmo escreve — o poeta é um fingidor —
O poeta fragmentado finge tão completamente,
Por dor tal que não se atreve, que chega a fingir que é dor
Tocar seu eu eclipsado a dor que deveras sente.
O que cala sua poesia e os que lêem o que escreve
Pelo bem deles refletem; na dor lida sentem bem,
Uma e outra imagem fria — não as duas que ele teve
Dentro em si, sem cor, competem — mas só as que eles não têm.
O caminho é torturante e assim nas calhas de roda,
Duplo círculo mal feito gira, a entreter a razão,
Sem tamanho, sem quadrante, esse comboio de corda
Um pulsar fora do peito que se chama coração.
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